6.3.08

Lotaria

A grande maravilha do Mundo Científico reside, para os aspirantes a um projecto de doutoramento, na imensidão de escolhas que temos pela frente. Aqui no IGC somos bombardeados com estímulos todos os dias, a toda a hora, sentimo-nos como pequenas crianças numa enorme loja de brinquedos, acabada de abrir, com tudo a cheirar a novo.

É claro que, os nossos brinquedos são algo mais sério do que um objecto de plástico com o qual nos podemos divertir durante um tempo e depois deitar fora - implica uma mudança de vida, de cidade, de país, uma dedicação exclusiva a algo em que acreditamos durante uma mão cheia de anos do nosso futuro próximo.

A capacidade que um aspirante a cientista tem em se maravilhar com o Mundo que o rodeia é tão ou mais assombrosa do que a de uma criança na dita loja. Graças ao corropio de informação e aliciamento por parte dos nossos professores (e não só), as ideias, os laboratórios, os países fluem pelas nossas cabeças a uma velocidade vertiginosa - há quem "escolha" o seu futuro pelo menos uma vez por semana, quem mude de pseudo-futuro laboratório como quem muda de meias, quem se deslumbre sistematicamente a cada sugestão de "aqui é que é".

Admiro quem passa um pouco ao lado de todo este entusiasmo pela novidade e toma o seu tempo para pensar com calma se o que aquele jovem simpático e comunicativo disse sobre um assunto muito na berra e aparentemente fantástico é, de facto, a escolha certa. É porque, ao contrário de um brinquedo, a nossa escolha não vem com avisos, instruções e selos de qualidade. Seja qual for o plástico em que se embrulhe, a publicidade adjacente, será sempre um grande tiro no escuro.

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