A agressão de uma aluna da Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, a uma professora, por esta lhe ter retirado o telemóvel durante uma aula, fez acender ainda mais o debate sobre o status quo do professor em Portugal, nos dias que correm, bem como da aparente e progressiva des-socialização das gerações mais jovens.
Nos últimos tempos, tem-se vindo a assistir a uma remodelação do estatuto do aluno, cada vez mais protegido por uma política que tenta, inadequadamente, fazer da Escola um local de inserção social e preparação psicológica em substituição do ambiente familiar, fazendo recair no professor não só o papel de transmitir conhecimento, mas também o papel de apoiar e acompanhar o aluno na sua vivência diária, muitas vezes estando mais por dentro dos problemas pessoas da criança/jovem do que os próprios pais. O culto da protecção da descendência que se vem fortalecendo no seio das famílias portuguesas é gritante. A criança já não é ensinada a viver em sociedade pela família. Valores como o respeito e o bom-senso ficam postos de lado pelos afazeres profissionais que, quando acabam, pouco mais espaço deixam no seio do lar do que umas palavras de motivação e protecção. Aos olhos dos pais ausentes, os seus filhos são geniais e devem ser protegidos a todo o custo. Aos olhos destes pais, que pouco ou nada vêm do real comportamento (ou, quando vêm, não tem paciência ou estofo para endireitar com um par de lambadas o filho, porque coitadinho dele, é jovem), a culpa do insucesso escolar e, em suma, do insucesso social é da própria sociedade, em particular, da Escola.
Porque é a Escola que tem a única obrigação, hoje em dia, de formar pessoas.
Este lavar de mãos em termos de responsabilidade é bárbaro e leva a que muitos pais se revoltem verbal e fisicamente com professores, se estes chumbam, com razão (quantos alunos deixam a 4ª classe sem saber ler e escrever adequadamente?) - um comportamento em tempos aliado a famílias de minorias, marginalizadas ou de pobreza evidente - mas nos dias que correm alastrado à classe média.
É claro que esta estupidificação em massa atinge a construção mental dos alunos e resulta em cenas como as que assistimos esta semana. Felizmente o assunto foi filmado (ainda que o contexto do mesmo tenha sido deplorável, mas mais sobre isso adiante), se não seria mais um caso que passaria desconhecido, graças ao modus operandi moderno das instituições de ensino e, fundamentalmente, ao medo generalizado de que a classe dos professores padece. Os miúdos são, desde novos, reduzidos a números e vêm o ambiente familiar normal substituído por uma criação em massa que começa nos infantários e progride, desacompanhada, até ao ensino Universitário (para os que lá chegam). Por muito boas intenções e necessidades que este sistema tenha, não é suficiente ou eficaz.
Analisando o caso em notícia, é ridículo que, não só a aluna manifesta uma total falta de respeito pela professora e, em última análise, pela instituição escolar no seu todo, como os colegas se divertem na "platéia", trocando insultos entre si e à professora. Esta última, pouco mais pode fazer do que defender-se e, segundo consta até tentou antes de quase ser derrubada, procurar a ajuda de auxiliares de acção educativa fora da sala para apaziguar a situação. Podemos também admitir que o processo que a professora adoptou para resolver a situação não foi o mais adequado - é admissível. Não nos podemos, contudo, esquecer que os professores não são treinados para lidar com este tipo de situações, onde apenas podem recorrer ao bom senso e experiência. Talvez umas aulas de artes marciais venham a ser incluídas nos currículos pedagógicos a título mandatório, uma vez que a violência parece já estar alastrada a escolas centrais, supostamente um pouco à parte dos bairros problemáticos como é o caso do Liceu Carolina Michaelis.
A Ministra da Educação veio à praça afirmar que o estatuto do aluno e as novas regras de funcionamento interno das escolas permitem um célere processo de punição para este tipo de casos. Mais uma vez, o medo poderá ter estado por detrás do facto de que passou uma semana desde a agressão ao processo disciplinar instaurado à aluna e isto só aconteceu após a divulgação das imagens, pois até então, a professora não havia feito queixa. Agora eu pergunto: não será mais célere repor aos professores, à luz da sua enorme responsabilidade enquanto formadores de pessoas nos dias de hoje, a autoridade para enfiar um par de lambadas bem dadas a meninos rebeldes, aos quais falta educação e civismo, quando o caso assim obriga? E, os pais, sempre que o rico filhinho voltar a casa com queixas de que o professor lhe bateu ou que o teve negativa num teste porque o professor é ruim, que tal assumirem que não passam tanto tempo com o vosso filho para poderem julgar propriamente o seu desempenho nas aulas e que, se o professor lhe deu um par de estalos, provavelmente terá sido com fundamento, em vez de partir para a protecção exacerbada e irracional de um filho que mal conhecem e mal educaram?
A solução está, para já, e a julgar pela política governamental e social, em paninhos quentes e na perpetuação da protecção das crianças e adolescentes que, afinal, são cada vez mais raros no nosso país e são o futuro. Resta saber se é este tipo de futuro que queremos e se vamos a algum lado com ele, ou se este futuro precisa realmente de um valente par de estalos na cara.
Nos últimos tempos, tem-se vindo a assistir a uma remodelação do estatuto do aluno, cada vez mais protegido por uma política que tenta, inadequadamente, fazer da Escola um local de inserção social e preparação psicológica em substituição do ambiente familiar, fazendo recair no professor não só o papel de transmitir conhecimento, mas também o papel de apoiar e acompanhar o aluno na sua vivência diária, muitas vezes estando mais por dentro dos problemas pessoas da criança/jovem do que os próprios pais. O culto da protecção da descendência que se vem fortalecendo no seio das famílias portuguesas é gritante. A criança já não é ensinada a viver em sociedade pela família. Valores como o respeito e o bom-senso ficam postos de lado pelos afazeres profissionais que, quando acabam, pouco mais espaço deixam no seio do lar do que umas palavras de motivação e protecção. Aos olhos dos pais ausentes, os seus filhos são geniais e devem ser protegidos a todo o custo. Aos olhos destes pais, que pouco ou nada vêm do real comportamento (ou, quando vêm, não tem paciência ou estofo para endireitar com um par de lambadas o filho, porque coitadinho dele, é jovem), a culpa do insucesso escolar e, em suma, do insucesso social é da própria sociedade, em particular, da Escola.
Porque é a Escola que tem a única obrigação, hoje em dia, de formar pessoas.
Este lavar de mãos em termos de responsabilidade é bárbaro e leva a que muitos pais se revoltem verbal e fisicamente com professores, se estes chumbam, com razão (quantos alunos deixam a 4ª classe sem saber ler e escrever adequadamente?) - um comportamento em tempos aliado a famílias de minorias, marginalizadas ou de pobreza evidente - mas nos dias que correm alastrado à classe média.
É claro que esta estupidificação em massa atinge a construção mental dos alunos e resulta em cenas como as que assistimos esta semana. Felizmente o assunto foi filmado (ainda que o contexto do mesmo tenha sido deplorável, mas mais sobre isso adiante), se não seria mais um caso que passaria desconhecido, graças ao modus operandi moderno das instituições de ensino e, fundamentalmente, ao medo generalizado de que a classe dos professores padece. Os miúdos são, desde novos, reduzidos a números e vêm o ambiente familiar normal substituído por uma criação em massa que começa nos infantários e progride, desacompanhada, até ao ensino Universitário (para os que lá chegam). Por muito boas intenções e necessidades que este sistema tenha, não é suficiente ou eficaz.
Analisando o caso em notícia, é ridículo que, não só a aluna manifesta uma total falta de respeito pela professora e, em última análise, pela instituição escolar no seu todo, como os colegas se divertem na "platéia", trocando insultos entre si e à professora. Esta última, pouco mais pode fazer do que defender-se e, segundo consta até tentou antes de quase ser derrubada, procurar a ajuda de auxiliares de acção educativa fora da sala para apaziguar a situação. Podemos também admitir que o processo que a professora adoptou para resolver a situação não foi o mais adequado - é admissível. Não nos podemos, contudo, esquecer que os professores não são treinados para lidar com este tipo de situações, onde apenas podem recorrer ao bom senso e experiência. Talvez umas aulas de artes marciais venham a ser incluídas nos currículos pedagógicos a título mandatório, uma vez que a violência parece já estar alastrada a escolas centrais, supostamente um pouco à parte dos bairros problemáticos como é o caso do Liceu Carolina Michaelis.
A Ministra da Educação veio à praça afirmar que o estatuto do aluno e as novas regras de funcionamento interno das escolas permitem um célere processo de punição para este tipo de casos. Mais uma vez, o medo poderá ter estado por detrás do facto de que passou uma semana desde a agressão ao processo disciplinar instaurado à aluna e isto só aconteceu após a divulgação das imagens, pois até então, a professora não havia feito queixa. Agora eu pergunto: não será mais célere repor aos professores, à luz da sua enorme responsabilidade enquanto formadores de pessoas nos dias de hoje, a autoridade para enfiar um par de lambadas bem dadas a meninos rebeldes, aos quais falta educação e civismo, quando o caso assim obriga? E, os pais, sempre que o rico filhinho voltar a casa com queixas de que o professor lhe bateu ou que o teve negativa num teste porque o professor é ruim, que tal assumirem que não passam tanto tempo com o vosso filho para poderem julgar propriamente o seu desempenho nas aulas e que, se o professor lhe deu um par de estalos, provavelmente terá sido com fundamento, em vez de partir para a protecção exacerbada e irracional de um filho que mal conhecem e mal educaram?
A solução está, para já, e a julgar pela política governamental e social, em paninhos quentes e na perpetuação da protecção das crianças e adolescentes que, afinal, são cada vez mais raros no nosso país e são o futuro. Resta saber se é este tipo de futuro que queremos e se vamos a algum lado com ele, ou se este futuro precisa realmente de um valente par de estalos na cara.
2 comentários:
Muito bem dito.
Também acredito na existência da tal teoria da desresponsabilização paternal que, no fundo, não é uma teoria, mas sim já (e infelizmente) uma prática corrente.
E se este tipo de comportamento espelha realmente aquilo que é o nosso futuro, então adivinha-se um futuro bem negro...
Hey,
Sou, tal como tu, adepta do valente par de estalos no menino/a.
O problema á que, em escolas como o Liceu Carolina, provavelmente a professora ia parar ao hospital depois das aulas. Para isso ser institucionalizado, os requisitos mínimos para ser professor teriam de incluir ter mais de 1,90m, e mestrado em artes marciais. Infelizmente, neste tipo de escolas, a unica coisa que resultaria é o chumbo nesse ano, por indisciplina. Já que os meninos não podem trabalhar legalmente até concluirem o 9o ano ou terem 18 anos, a única coisa que afectaria os pais dessas crianças (sim, porque a culpa é, indubitavelmente, deles) é o facto dos filhos estarem retidos na escola, sem passar de ano, sem ganhar dinheiro. O ''chumbo'' é ainda algo que assusta essa geração...
Porém, a ministra defende que os meninos, coitadinhos, analfabetos e analfabrutos, chegam até ao 12º ano sem qualquer esforço...
Baci, obrigada pela leitura estimulante=)
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